Azulejo Português – Tradição e Delicadeza


No post de hoje - sobre cerâmica utilizada na construção civil – falaremos sobre o azulejo português, um tipo muito tradicional e marcante de cerâmica de revestimento. A palavra portuguesa azulejo é usada para denominar a placa cerâmica de revestimento que leva vidrado em apenas um de seus lados. Os esmaltes são compostos por três principais materiais: a sílica (que é o ingrediente essencial), um fundente (que diminui o ponto de fusão do verniz, uma vez que o da sílica é de aproximadamente 1700°) e a alumina (que torna o vidrado mais duro e resistente).


A cerâmica de revestimento possui infinita variedade de tratamentos superficiais que podem ser aplicados antes ou depois da primeira queima da peça. No caso do típico azulejo português, depois da secagem do vidrado (que ainda está cru), a peça pode ir para o processo de decoração característico: a pintura à mão. A pintura sobre o esmalte cru é relativamente difícil, uma vez que não permite correções e a água da tinta é sugada quase que automaticamente pela peça.



A beleza particular desses azulejos antigos é resultado de pinceladas minunciosas, experiências de cor, de vidrado e de queima que difere de fornada para fornada, provocando um matizado de tonalidade de vidrados e cores fumadas (especialmente azul) característicos. Normalmente o resultado desejado aparece depois da segunda queima da peça já decorada.



O azulejo transcendeu a idéia de elemento decorativo sendo, por mais de cinco séculos, um suporte importantíssimo para a expressão artística em Portugal. Eram retratadas cenas mitológicas, guerreiras, satíricas e de alegorias presentes em gravuras estrangeiras, além de motivos florais, representações fantásticas e do paraíso, delimitadas por molduras e faixas em comunhão com elementos da temática religiosa. Um recurso bastante utilizado era o trompe-l’oeil (literalmente engana o olho), criando ilusões espaciais que davam vida às figuras retratadas nas paredes. Concorrendo com a pintura mural, o azulejo foi para o traço erudito dos mestres do desenho e da pintura. Artistas portugueses a referir são Francisco de Matos e Marçal de Matos. O azulejo português foi muito usado para revestir grandes superfícies nos interiores de igrejas, onde apenas pequenos painéis (chamados registros) com cenas figurativas e de santos surgem como apontamento a intercalar a malha do padrão.



Musa Tália,
c. 1670, MNA inv. 6914.
foto: José Pessoa (DDF-IPM)






painéis de motivos religiosos



O emprego de uma só cor, azul, sobre o fundo branco permite uma maior concentração na pintura.

No início de setecentos, o pintor de azulejo volta a assumir o estatuto de artista assinando os seus painéis. O precursor desta situação foi o espanhol Gabriel del Barco, ativo em Portugal em finais do século XVII, introduzindo um gosto por envolvimento decorativo mais exuberante, e uma pintura liberta do contorno rigoroso do desenho. Hoje em dia ainda existem artistas que realizam este tipo de trabalho em cerâmica, normalmente em pequenos painéis feitos para algum revestimento específico.


Detalhe da pintura no azulejo




João Moreira






Igreja da Madre de Deus,
Lisboa, c. 1700.
foto: Nicolas Lemonnier

Galeria das Artes»,
Palácio Fronteira, Lisboa, c. 1670.
foto: (DDF-IPM)



Quinta da Capela,

Sintra, António de Oliveira Bernardes,
primeiro quartel doséculo xviii.

foto: Nicolas Lemonnie



Escadaria, Palácio dos Marqueses de Minas, Lisboa,
PMP, primeiro quartel do século xviii.
foto: Nicolas Lemonnier

Fonte: Instituto Camões


Fonte: Instituto Camões


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